Numa pequena cidade do interior de Minas, o exame de vista custa apenas trinta reais. O consultório é improvisado e o exame não é feito por médicos, mas eles vendem bastante óculos.
O anúncio de "médico oculista" chama atenção em Amarantina, distrito de Ouro Preto.
“Vai muita gente, todo mundo vai”, diz Jéssica Ferreira, lojista. A promessa é de exame computadorizado com oftalmologista e o nome de uma funcionária do posto de saúde pra marcar a consulta.
Com uma câmera escondida, registramos a chegada da suposta equipe médica. A funcionária do posto estava lá. O exame é num consultório improvisado. Nada de equipamentos modernos.
O homem errou em meio grau o diagnóstico de miopia da nossa produtora, desconsiderou os dois graus de astigmatismo num olho e não deu receita. Os óculos tinham que ser escolhidos ali mesmo. “Ela tá investindo nela, na saúde dela”, diz.
Só quando nossa produtora fez a encomenda, veio o relatório com um carimbo. José Geraldo Silva é optometrista, profissão que, segundo o Ministério do Trabalho, não é regulamentada.
O outro homem confirma que não há médico ali. “Oftalmologista é médico pra doença do olho, glaucoma, catarata, cirurgia, transplante de córnea, é isso, médico oftalmologista não sabe fazer isso aqui”, diz.
E a funcionária do posto de saúde revelou o verdadeiro negócio. “A intenção dele mesmo é o óculos, a venda do óculos”, afirma.
O atendimento é feito numa sala que fica em cima do posto municipal de saúde. E segundo a recepcionista, a clínica improvisada já funciona há muito tempo.
A funcionária do posto diz que não recebe um centavo do optometrista e que a sala foi cedida pela prefeitura a uma associação de moradores.
“Tem oito anos que eles fazem esse trabalho aqui. Eu estou aqui tem um ano, entendeu? Então, não sei quem é, o que ele fez, com quem que ele conversou pra vim pra cá”, diz Aparecida Regina da Silva, recepcionista do posto de saúde.
Não encontramos nenhum representante da associação. A secretaria municipal de Saúde confirma o empréstimo da sala e disse que vai investigar o caso. O Procon identificou dois abusos: propaganda enganosa, venda casada, além de um crime.
“Se for averiguado até por parte do Ministério Público podemos até analisar a questão de fraude, porque o profissional está se passando por outro profissional”, declara Gustavo Garcia, diretor do Procon de Ouro Preto.
“Iisso configura o exercício ilegal da medicina”, afirma Elisabeto Ribeiro Gonçalves, médico do Conselho Brasileiro Oftalmologia.
Simone, que foi examinada e comprou óculos do optometrista, está preocupada. “Talvez possa prejudicar mais ainda as nossas vistas”, diz.
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